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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A fábula dos espelhos







"Naquele tempo,o mundo dos espelhos e o mundo dos homens não estavam isolados um do outro.Eles era, por outro lado muito diferentes-nem os seres,nem as formas, nem as cores coincidiam. Os dois reinos,o dos espelhos e o humano, viviam em paz. Entrava-se e saía-se dos espelhos.





Uma noite, as pessoas dos espelhos invadiram a terra. A sua força era grande, mas após sangrentas batalhas, as artes mágicas do Imperador Amarelo prevaleceram. Este repeliu os invasores, aprisionou-os nos espelhos e impôs-lhes a tarefa de repetir, como numa espécie de sonho, todos os actos dos homens. Privou-os da sua força e da sua figura e reduziu-os a simples reflexos servis. Contudo, um dia eles sacudiram essa letargia mágica... As formas começarão a despertar. Deferirão de nós a pouco e pouco, imitar-nos-ão cada vez menos. Quebrarão as barreiras de vidro e de metal e dessa vez não serão vencidos."









Borges, A fauna dos espelhos






Retirado de Braudillard, J., O crime perfeito

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